Esses slogans se tornaram famosos pelo movimento radical de contracultura nos Estados Unidos no início da década de 1960 e se tornaram virais no ano de 1968, quando a contestação intelectual, social e política ganhou o mundo inteiro. O amor foi colocado na vanguarda das reivindicações que mudam a vida. Na época, as pessoas sentiam a extrema importância política e subjetiva do amor, deixando claro que as coisas do amor estavam sendo reprimidas sob pressão moral e social.
A reivindicação da liberdade no amor era um gesto político radical e traria, em larga escala, mudanças fundamentais na forma como os indivíduos viveriam suas vidas no futuro, questionando o modelo tradicional da vida familiar e o propósito de viver em uma sociedade centrada no homem com ambição mundana, aspiração material, crescimento perpétuo, ideias que apenas alguns poderiam almejar em todo caso. Inevitavelmente, as reivindicações e ações eram espetacularmente sobre o amor erótico. Em Paris, durante os protestos de maio de 1968, os muros proclamavam "Jouissez sans entraves" (que significa "Gozem sem entraves").

Muito antes disso, no início da civilização ocidental, há mais de 25 séculos, o amor apareceu como um assunto completamente novo, intimamente ligado ao surgimento da filosofia na Grécia Antiga. O Banquete de Platão é testemunho disso. Para convencer os outros participantes do Banquete a escolherem o "Amor" como tema principal da conversa, Eryximachus insiste no fato de que "ninguém até o presente se aventurou a glorificar Eros" e que era hora de "Adornar o deus".
Hoje, 25 séculos depois e cinquenta anos após o ano de 1968, e apesar da literatura fantástica sobre o tema do Amor, temos razões para pensar, como Eryximachus, que o Amor ainda é negligenciado e incompreendido. Atualmente, o amor parece em todos os lugares e em lugar nenhum. Por isso, talvez seja ainda mais difícil falar sobre o tema do amor, agora em que o amor parece uma questão trivial. Parece, de fato, mais difícil de filosofar sobre o Amor hoje do que no tempo de Platão, quando era óbvio que o Amor era um Deus, que o nome dele era Eros. Será que já celebramos o amor demais e por muito tempo?
Prestando atenção a esses três pontos, como diretora de palco e também como filósofa, imaginei uma reconstituição do Banquete de Platão hoje, convidando a participar e contribuir filósofos contemporâneos que abraçam esses problemas e desejam pronunciar discursos sobre o tema do Amor.

Mériam Korichi, 15 de março de 2018.

Na sequência do congresso da ASPLF, será organizado um evento por Mériam Korichi, filósofa e diretora de teatro, criadora da série de eventos Uma Noite de Filosofia , colocando cara-a-cara filosofia e arte. A série foi lançada em 2010 na Ecole Normale Supérieure em Paris e, desde então, novas edições, com novos participantes, foram apresentadas em Londres, Berlim, Nova Iorque, Helsinki a na sede da UNESCO em Paris.

A edição do evento no Rio de Janeiro vai ter o formato de um Banquete , uma série de performances concebida por Mériam Korichi com 8 filósofos, acompanhados de músicos e artistas. Essa será a terceira edição do Banquete depois de Míconos em setembro de 2017 e em Brooklyn em janeiro de 2018.

Um prólogo personificado por um artista apresentará o Banquete do Amor pela primeira vez no Rio de Janeiro, organizado na Escola de Artes Visuais do Parque Lage.

Uma mesa no meio do espaço público, e músicos ao redor da noite, com vinho e café na mesa. Visões e discursos sobre o amor se desenvolverão ao longo da noite, talvez provando novamente o que Sócrates reivindicou 25 séculos antes no Banquete de Platão: que um filósofo "não conhece senão as coisas do amor". E a audiência experimentará, como a sedução do filósofo, as seduções de suas palavras, pode ser desafiada pela sedução da música e, inversamente, como a sedução do filósofo pode desafiar a sedução da música.